Capitulo I
“Alguns disseram que a culpa é do governo, outros culparam os erros do passado, eu culpo outras situações que nos condenaram a este destino.”
O sol já se começava a esconder, Sam pousou o copo de água sobre a mesa, nada se ouvia, caminhou em direcção a uma outra divisão da casa que tinham assegurado na noite anterior. Toda esta nova divisão permanecia escura e inexplorada, havia sido ocupada anteriormente , pois tinha tudo para ser o local ideal de ocupação dos outros, era húmida e tinha pouca luz. Sam caminhou em direcção ao escuro, quando se aproximou da porta da divisão, esta fechou-se. Instintivamente num movimento mecânico-organico Sam, puxou da sua arma e apontou na direcção da porta até que ouviu uma voz por traz dele.
- Calma Sam! Pousa a
arma, ainda te magoas.
Esta voz era-lhe familiar e ele sabia exactamente quem
estaria atrás dele, mas depois de tal susto, virou-se ainda em modo defensivo
do que poderia vir ai. Ao virar-se completamente deparou-se com aquilo que já
estava a espera de encontrar, uma rapariga de traços jovens, olhos claros com
maquilhagem carregada preta e cabelo de uma cor vermelho - arroxeada que trazia
na cara um sorriso e nas mãos uma espécie de caixa metálica.
- Penny, que raio de
ideia foi esta?
- Acalma-te Sam, já
te esqueceste do que é brincar? Já tivemos sustos maiores que isto. Tenho algo
novo para te mostrar, é o meu mais recente mecanismo de defesa contra os
outros.
- Como é que uma porta que se fecha sozinha nos vai ajudar a
defender-nos contra os outros?
- Tens mesmo cabeça dura, olha com atenção!
Sam aproximou-se da Porta e viu um mecanismo que possuía
duas luzes a piscar.
- Para alem de ele fechar a porta quando alguém se aproxima,
deixando quem esta no interior da divisão seguro. Prosseguiu Penny. - Se eu
apertar aqui o sistema de auto-defesa activa-se… e se… espera um pouco,
afasta-te.
Sam recuou e Penny seguiu o exemplo, ambos deram uns passos atrás.
- Agora observa e tenta aprender! Acrescentou sarcasticamente
Penny enquanto apertava um pequeno botão verde na caixa metálica que tinha nas
mão. Logo a seguir sem aviso prévio pegou numa cadeira de madeira escura e
podre e arremessou-a contra a porta que prontamente a fez explodir em chamas
com o contacto.
- Wow Penny! Como é que nunca te lembraste disto antes? És
genial, ainda bem que impedi que te tornasses um dos outros.
- Oh Sam, lembra-te que isto não foi nada que eu já não
tenha tentado anteriormente, apenas aperfeiçoei o dispositivo e reformulei a
forma dele. E em relação ao que disseste
dos outros, nunca me vou esquecer desse dia, dessa memória que também nunca
irei apagar.
- A vida está a ficar complicada parceira…
Sam abriu os braços de forma a agarra Penny e aconchegou-a
perto de si, uma pequena sessão de mimo que prontamente foi abalada por um
enorme estrondo vindo do piso superior da casa. Sam preparou logo a sua arma, carregada
e pronta a disparar, Penny também tirou logo do seu colete uma faca de guerra
pronta para qualquer ameaça.
- Sempre atrás de mim. Sussurrou Sam olhando para a rapariga
de cabelo vermelho -arroxeado.
Dito isto, voltou-se e seguiu na frente de Penny até ao
inicio da escadaria, pé ante pé, fazendo o mínimo de ruídos possível. Ao cimo
das escadas via-se uma luz trémula e mais barulhos, parecia ser algo orgânico
como o som de alguém a murmurar.
- Achas que algum dos outros ficou cá dentro? Indagou Penny
Subindo degrau a degrau logo após o companheiro.
- Não pode ser, a casa ficou limpa depois do que aconteceu
ontem há noite. Retorquiu Sam friamente enquanto acelerava o passo, tendo em
vista o fim da escadaria. E por fim achavam-se de frente para o quarto de onde
vinha o barulho, então os dois duramente irromperam pelo quarto de luz trémula
a dentro, onde se depararam com uma confusão tremenda de vários objectos e
principalmente discos de vinil espalhados pelo chão. Os murmúrios continuavam a
ouvir-se, e cada vez mais audíveis, este murmurar parecia vir de dentro de uma
armário de parede que se achava na outra ponta do quarto, os murmúrios pareciam
agora ter sido trocados por algo que se assemelhava a preces, como se alguém
estivesse a rezar. Sam Fez sinal a Penny enquanto se aproximava do armário para
lhe lançar uma das suas facas de guerra que levava presas ao colete, pedido a
que esta prontamente acedeu, e com um simples e rápido movimento lançou a faca
que graciosamente caiu nas mãos do Sam.
- Não saias dai, eu vou lá, cobre-me a retaguarda. Dito isto
o rapaz de cabelo loiro piscou o olho e avançou na direcção pretendida, sem
fazer um único som até encostar a mão na maçaneta do armário de porta branca,
que começou a rodar. De repente as preces começaram-se a tornar mais audíveis,
Sam começou a entender as palavras proferidas do outro lado da porta “Ajuda-me
a ser forte contra os outros, ajudai-me a derrotar este mal” e esta frase ia
sendo repetida continuamente até que Sam rodou totalmente a maçaneta e ao abrir
a porta sai de dentro do armário um homem baixo, entroncado e de cabelo preto a
correr aos gritos.
O homem correu até uma parede e apercebeu-se que nada se
tinha mandado contra ele, virou-se repentinamente e deu de caras com os
intervenientes.
- Sam? Penny? São Vocês? Erm… Disse o homem a tremer,
ofegante e esfregando uma mão contra a outra, nervosamente.
- Sim somos nós, e tu és tu ou és um dos outros? Que valente
susto que nos pregaste Steven!
- Foi de Propósito!
- De propósito? Acrescentou Penny Indignada com a resposta.
- Só para ver se estavam preparados para um ataque, eu não
estava nada assustado, eu estava á espera que fossem vocês é isso, estava a
espera que fossem vocês. Finalizou o homem de cabelo preto enquanto limpava o
suor da testa e o pó das suas roupas ainda com as mãos a tremelicar.
- Pois Steven, já não nos enganas mais, favas ali dentro a
dizer “Ajuda-me a ser forte contra os
outros, ajudai-me a derrotar este mal” e olha que te ouvi repetir isto mais do
que uma vez. Retorquiu Sam amistosamente e em tom de gozo enquanto remexia nos vinis
que se achavam espalhados pelo quarto. – Thriller? Nunca um tema foi tão apropriado
a uma situação, até parece que ele já sabia que os outros ai vinham.
- Naaaa, isso era imaginário, o que tu enfrentas é a
realidade. Respondeu prontamente Steven enquanto se aproximava de Penny de
forma a entregar-lhe duas navalhas que havia encontrado.
- Obrigado, são lindas! Agradeceu Penny sentindo-se lisonjeada
pelo singelo gesto de Steven enquanto observava com a atenção cada detalhe da
manufactura das suas novas navalhas.
Sam aproximou-se dele e os três abraçaram-se por baixo da
ainda trémula luz do candeeiro que alumiava o quarto. E em coro e voz alta
disseram enquanto agarrados: “Juntos no fim, Juntos contra os outros!” E no
quarto logo de seguida fez-se um silêncio perturbador, pois não era um silencio
qualquer, era um silencio pesado, pois cada um estava neste momento a pensar em
tudo pelo que tinham passado até este ponto.
- Vá rapazes deixem-se disso, temos trabalhos pela frente e
temos que nos manter mais unidos que nunca, não esqueçam o que já passámos ate
agora, mas lembrem-se que ainda existe muito para fazer e olhem que não vai
melhorar a partir de agora, mas enquanto houver esperança não cruzaremos os
braços, nunca desistam, nunca, nunca, nunca! Apoiou Penny enquanto ainda as
lágrimas lhe escorriam pela cara a baixo.
Capitulo II
O dia já estava a nascer e consigo trazia a luz que
iluminava o mundo desolado fora da janela quando Steven acordara, teria dormido
melhor como os outros dois companheiros, não fossem algumas das memórias que
ele não conseguia tirar da cabeça, onde só ecoavam as palavras de um momento em
específico: “Cuidado pai! Os outros chegaram aqui!”, podia-se lembrar e ter a
terrível visão do momento a qualquer altura. Parou e olhou fixamente para o
reluzir das gotas de água na janela com o embater do sol, onde cada gota era
capaz de descodificar o feixe solar que nelas embatia, nas 7 cores que compõem
o arco-íris. Começou a observar com uma atenção mais pormenorizada o mundo
exterior completamente desolado, onde outrora se viam as pessoas nas rotinas
diárias. Viam-se agora a ruínas do que os outros antes de se tornarem os outros
construíram.
- Continuas sem conseguir dormir? Deixa-me adivinhar, os
fantasmas do passado? Sam voltou-se para encontrar Penny ainda de pijama atrás
de si.
- Sim, continuo a relembrar-me vezes se conta daquele
momento todas as noites, se ao menos…
- Se ao menos nada! Não te culpes, chega! Fizeste o que
podias Sam, e se aquelas pessoas tiverem vivas até agora a ti o devem. Irrompeu
a rapariga antes que Steven disse-se algo que podia vir-se a arrepender.
- Obrigado. Steven mal teve tempo de agradecer pois Sam
entrou pela cozinha a dentro na direcção dos dois.
- Bom dia aos dois, já repararam no que se esta a passar lá
fora? Inquiriu Sam com um ar de extrema preocupação.
- Ainda agora olhei através da janela e tudo me pareceu
estar calmo. Contrapôs Steven de ar indignado.
- O que se passa Sam? Questionou Penny enquanto engolia em
seco devido ao nervoso miudinho que lhe nascera na barriga.
- Vi que se aproxima da casa um bando. Ainda estão longe,
mas não devem demorar muito a chegar, olhem. Sam levantou a mão e apontou na
direcção da janela iluminava fracamente a cozinha onde se encontravam.
Steven e Penny observaram o exterior que se achava um pouco escuro
devido ás nuvens chuvosas e escuras que se abateram sobre a área envolvente da
casa, e constataram aquilo em que não queriam acreditar. Na linha do horizonte
podia ver-se um bando de pelo menos 30 Outros a aproximarem-se na direcção da
casa, o coração de cada um dos dois parou e o sangue que lhes corria nas veias,
parecia ter congelado e estagnado dentro delas.
- Não entrem em pânico acalmou Sam.
- O que fazemos? O que fazemos? Como é que nos encontraram?
Questionava Penny enquanto remexia as gavetas da cozinha em busca de armas.
- Calma! Gritou Steven em voz altiva e continuou. Sam, sabes
o que tens a fazer e tu Penny reúne todo o armamento aqui, e já agora comida
também, não sabemos quanto tempo demorarão eles a passar.
Dito isto Sam e Steven começaram a desmanchar mesas e
cadeiras de forma a ficarem em pedaços capazes de pregar nas janelas e portas
de acesso ao exterior, tudo isto feito de forma rápida, precisa e nervosa.
Penny encontrara um grande conjunto de facas de guerra no sótão da casa e
pousou-as pesadamente fazendo um grande estrondo.
- Penny! Exclamou Steven.
- Tens de ter cuidado, fazer barulho só vai chamar mais a atenção
dos outros!
- Deixem-se disso, a Penny não fez por mal. Ordenou Sam
freneticamente.
- Olhem lá para fora, eles já
estão a menos de cem metros da casa.
E o olhar de terror invadiu
novamente os três companheiros que observavam o bando a aproximar-se cada vez
mais da casa.
- Nem mais um barulho nem um
único ruído, metam-se ali por trás daquele armário. Ordenou novamente o rapaz
alto e de cabelo loiro no ar.
Apressaram-se silenciosamente
para se posicionarem atrás do armário, no meio do escuro apenas quebrado pelas
pequenas frestas que por entre as tábuas e pedaços de madeira, deixavam
transparecer a luminosidade exterior. Começavam agora a sentir o aproximar dos
outros, com passadas lentas. Pesadas e por vezes arrastadas.
Para alem do batimento cardíaco
dos três companheiros, apenas se ouvia o grunhir e o gemer dos outros no
exterior. Que pareciam estar a passar lentamente pela casa sem pressentirem
presença viva no interior da mesma.
- Parece que já seguiram. Sussurrou
Penny para os companheiros.
Dito isto e posto em evidencia,
os três levantaram-se e começaram a andar até á porta principal da casa.
- Acho que tens razão Penny, não
se ouve ruído nenhum lá fora, parece que já passaram mesmo, mas de qualquer
forma continuem sem fazer barulho, nunca se sabe se pode haver algum ainda aqui
a rondar. Constatou o mais alto dos dois rapazes enquanto se dirigia até á
porta.
Entretanto de um móvel
castanho-escuro de pequenas dimensões mas muito trabalhado e ornamentado, tomba
uma jarra de porcelana pouco trabalhada, pintada de amarelo e coberta de pó,
que ostentava uma grande quantidade de girassóis murchos. Esta rebola pelo
móvel até embater no chão, fazendo um grande estrondo e encharcando o chão de
agua e espalhando os girassóis murchos.
Os três deram um salto de susto
mas abafando todo e qualquer grito que se pudesse soltar e dão uns passos
atrás, mas Steven em vez disso avança na direcção da jarra de forma a apanhá-la
e repara que pelas frestas da porta algo está junto á porta no exterior, algo
que lhe pareciam ser dois pés, um deles calçado com uma bota de tropa e outro
descalço sem dois dos dedos e os restantes três dedos todos sujos com a pele
num tom branco-esverdeado. Os olhos petrificaram de pânico á medida que via
mais sombras no exterior a aproximarem-se da porta principal.
Steven bloqueou naquele momento.
Ainda tentou acenar aos companheiros para estes não fazerem qualquer som, mas o
seu próprio corpo congelara naquele instante. Sam e Penny, que estavam uns
passos atrás, repararam que algo não estava bem e aproximaram-se de Sam , que
de súbito descongelou e soltou um grito.
- Não se mexam! O pior foi que
este grito foi tão audível que no exterior se começou a ouvir murmúrios, choros
e a porta principal começou a ser violentada e remexida pelo que estava no
exterior.
Steven, Sam e Penny voltaram a
petrificar em torno da porta principal.
- Escondam-se, levem tudo o que
puderem para o andar de cima da casa, temos de bloquear a escadaria. Disse Sam
enquanto caminhava apressadamente para arrastar o pequeno móvel onde estava a
jarra de girassóis para a frente da porta.
Estava instalado o caos na casa,
Sam e Steven apresavam-se a arrastar todo o mobiliário possível enquanto a
porta ainda conseguia aguentar os outros no exterior.
- Penny, trata das armas!
- Sam, vamos buscar aquele
armário grande ali ao lado das escadas, temos que lhes dificultar ao máximo a
entrada!
O desespero ia aumentando e desta
vez os três jovens faziam muito barulho no interior da casa. De repente ouve-se
o partir de vidros, a casa começava a ficar completamente cercada e isso
denotava-se á medida que mais e mais gemidos e murmúrios se iam ouvindo no
exterior.
- Sam, Steven! As armas estão a
postos! Gritou Penny.
- Então vai para cima Penny e
verifica todas as janelas! Retribuiu Sam enquanto que com a ajuda de Steven
arrastava a mesa da cozinha para a escadaria.
- Acho que é melhor subirmos,
aquela porta não vai aguentar muito mais. Assim que Steven acabou a frase
ouve-se mais um vidro de uma janela a ser partido fazendo um enorme barulho.
- Eles estão a entrar olha!
A porta principal é derrubada e
sedentos por carne os outros entram pela casa como já havia sido á duas noites
anteriores, Sam e Steven apressaram-se a escalar a mobília espalhada e
colocam-se no andar de cima. Escondidos atrás de uma velha mesa de madeira
clara. Marcada de cortes e de bases de copos, de onde observam a 2ª fase da
evolução dos outros.
Criaturas que até á pouco tempo
eram humanos e que agora não possuíam alma, estavam completamente em
decomposição, muitos deles já sem grandes bocados de carne ou ate mesmo com
membros do corpo decepados, os olhos vazios, muito vascularizádos em alguns
casos ou muito amarelados noutros, dependendo do estágio da sua evolução, no
fundo todos eles estavam mortos, já não eram as pessoas que costumavam ser,
eram mortos-vivos por assim dizer, sedentos de sangue carne humana. Predadores
natos de instinto animal que procuram alimento noite e dia sem descanso.
E neste ponto haviam três pedaços
de carne fresca que eles ambicionavam dentro da casa.
Sam fez sinal para nenhum dos
parceiros fazer um único som e permanecerem imóveis. Os Outros começaram a
andar pela casa á procura do seu alimento, ouviam-se os gemidos, os murmúrios,
o respirar acelerado e o arrastar de muitos deles. Este barulho para alem de
vir do piso inferior, começava agora também a vir do piso superior onde os três
se encontravam e ao olharem para trás viram que um dos outros se achava no
final do corredor a caminhar na direcção deles, Penny soltou um grito e a
confusão instalou-se novamente o outro que se achava no final do corredor olhou
directamente para ela através do seu único olho e começou a caminhar mais
rapidamente na direcção deles, enquanto os outros do piso inferior começaram
também a soltar guinchos e a gemidos muito mais altos do que até este ponto,
enquanto subiam pelos armários e mesas, cada vez mais aglomerados na direcção
deles.
Steven pegou rapidamente numa
arma e friamente com precisão acertou no único olho do outro do piso superior,
o qual foi trespassado pela bala e que fez com que o outro caísse no chão
novamente morto.
- Um já caiu, só mais uns e
acabamos isto. Gritou Steven em tom d Guerra enquanto corria na direcção do
outro no chão e lhe pisava a cabeça, despedaçando-a.
Sam e Penny também estavam de
armas em riste a apontar para os que subiam pelas escadas e sobre os moveis com
o ar vazio que os caracterizava.
- Eles estão a conseguir chegar
cá a cima, são demasiados! Gritava Penny enquanto tentava abater os que mais se
aproximavam com a sua fiel catana.
- Vamos ter de continuar a
resistir e fugir para fora da casa… se conseguir-mos! Exclamou Sam de Sniper em
riste apontando as varias cabeças semi-descarnadas que se iam juntando.
De súbito os outros ganharam mais
companheiros e começaram a aproximar-se cada vez mais da principal barreira de
defesa. Um deles consegue partir a mesa onde anteriormente Sam, Penny e Steven
se haviam escondido e passa até ao corredor agarrando Sam.
- Socorro! Gritava o Sam enquanto
o outro o agarrava tentando morde-lo.
Steven apareceu por trás do outro
e deu-lhe um pontapé em cheio na cabeça, arrasando-o para o chão onde lhe pisou
a cabeça que se desfez em mil pedaços.
- Estás bem?
- Sim, mas ele era bastante forte.
- Rapazes, menos conversa e mais
cabeças despedaçadas, senão não aguentamos muito mais! Vou experimentar uma
coisa. Gritou Penny agarrando em duas granadas das quais tirou o bloqueio e as
arremessou para o piso inferior.
- Baixem-se rapazes!
As granadas explodiram fazendo um
enorme estrondo que fez com que a casa estremecesse e um grande clarão de
chamas se propaga-se até ao corredor do primeiro andar, desfazendo em pedaços
de carne e sangue os outros que se encontravam dentro de casa.
- Que golpe de génio Penny.
- Obrigado Sam. Agradeceu Penny
ainda ofegante. - Agora temos de ir embora, a explosão fez demasiado barulho e
outros grupos podem ter ouvido.
- Steven estás bem? Questionou
Sam olhando para o homem de cabelo preto que se encontrava com alguns arranhões
na cara.
- Estou, isto não é nada, ainda
está para vir o outro que me faça parar!
- Gosto de te ouvir falar assim!
Penny tu estas bem não estás?
- Sim, estou pronta para outra,
os meus níveis de adrenalina estão ao rubro segundo o meu relógio!
- Ainda bem malta, peguem nas
mochilas, vamos sair da casa!
Capitulo III
- Prontos para seguir caminho? - Perguntava o rapaz mais
novo do grupo, Sam.
- Por mim sim, já não aguento nem mais um segundo nesta
casa. – acrescentou a rapariga do grupo, de cabelo vermelho-arroxeado.
- Temos de sair já, daqui a nada anoitece, já tenho as tendas
e as lanternas na mochila malta. – ordenou o rapaz mais baixo do grupo.
- Vamos então. – Clarificou Sam, seguindo na frente. –
Steven, como estão os teus arranhões? Isso não me parece nada bom, achas que…
- Não é nada, não te preocupes. - Acalmou Steven colocando
um penso sobre o arranhão que tinha na cara.
- Então vamos. – Sam seguiu na frente do grupo.
- A pequena quinta onde se encontravam estava agora deserta,
parecia que tinham conseguido acabar com o grupo todo de uma assentada, o que
culminou numa maré de entranhas, e pedaços dos corpos espalhados pela casa de
onde saíram. Nada se passava á volta deles, a calma havia retomado, só parecia
mesmo faltar a rotina das pessoas que ali um dia fizeram as suas vidas.
- Para onde vamos nós agora? – Questionava Steven quando
abrandou o passo.
- Temos de ir para norte, já vimos como está o sul. –
respondeu Sam e continuou Steven as perguntas.
- E em relação á capital Penny?
- A última vez que tentei contactar com eles foi quando nos
avisaram das proporções que a 2ª Evolução estava a tomar.
- 2ª Evolução… Quem diria que eles em tão curto espaço de
tempo conseguiriam ter uma evolução tão rápida. – acrescentou Sam.
- Nos sabemos o que nos levou a este destino… Arriscou Penny
entre-dentes.
- Claro que sabemos, já tivemos de lidar de caras com a
verdade… Pena que o resto do mundo não saiba o que se passou na realidade como
nós vimos. – respondeu Steven prontamente enquanto pegava na Sniper que estava
presa na parte de traz do colete de Penny e a apontava para a cabeça de um
OUTRO que vagueava junto de uns arbustos sozinho e afastados deles.
- Não dispares! - impediu Sam.
- Ele não nos viu, e o som do projéctil poderia bem ser um
chamariz sonoro para mais alguns OUTROS que se encontrem por aqui perto.
- Rapazes! Tracei no mapa a nossa rota até á próxima cidade,
preciso de mais algumas peças e devíamos ver se arranjamos alguma comida que
ainda esteja boa. Indicou Penny mostrando um mapa colorido com um traçado feito
manualmente a caneta roxa.
- E quanto tempo leva até lá chegar-mos? E sabes se está lá
aquilo que tu queres Penny? – questionaram prontamente os dois rapazes.
- Baby’s tenham calma a idade dos porquês já vos passou,
penso eu não é! Disse Penny em voz de troça e olhando para eles de cima a baixo.
– Respondendo á vossas questões… Se arranjar-mos algum veiculo que funcione em
condições ali á frente na estrada principal, - apontando o dedo para uma
estrada que já não se encontrava muito longe deles. – Talvez cheguemos lá em
poucas horas, senão contem só lá chegar amanha ao raiar do dia. – prosseguiu
Penny enquanto olhava para o relógio.
- Então e vamos continuar a falar ou vamos procurar um carro
que nos leva até lá? – acrescentou Steven sarcasticamente.
- Tens razão, não temos mais tempo a perder, ponham as
mochilas novamente às costas e vamos. – indicou Sam, á medida que o OUTRO que
ele tinha impedido que Steven disparasse contra se aproximava.
Este tinha metade da cabeça transfigurada enquanto a outra
metade mantinha ainda os traços humanos originais, não fosse o facto de um dos
seus olhos estar pendurado apenas por alguns nervos.
Baixem-se rapazes. – murmurou Penny enquanto tirava do seu
colete uma das suas facas de atirar.
Os rapazes baixaram-se até ao chão e Penny sem qualquer hesitação,
atirou a faca de cabo preto e lamina afiada que trespassou a garganta do OUTRO tão
rapidamente quanto o seu som ao cortar o vento, com uma brutalidade tal, que a
cabeça se separou do resto do corpo e ambos caíram no chão.
- Este não evolui mais… Vamos! A estrada principal deve-nos
trazer algo de bom e é sempre útil para procurar alguns mantimentos. - concluiu
Penny esboçando um largo sorriso no instante em que ajudava Sam e Steven a
levantarem-se do chão.
- Vejam o que se pode aproveitar, mas acima de tudo tenham cuidado, um alarme que dispare e é o nosso fim. – acautelou Sam no momento em que abria a porta de um carro cinzento com os vidros partidos, a pintura riscada e manchada para a investigar.
Sam deslocou-se até ao carro onde Penny se encontrava e observou ,o mesmo cadáver que esta estava fixamente a olhar, este cadáver que apenas havia sido devorado do pescoço para baixo, apresentava a pior cara de sofrimento que eles alguma vez haviam visto, mas Penny olhava para algo em concreto no cadáver.
- Ias-me matando! – Gritou Sam.
Capitulo V
Dito isto Sam deixou em pausa o que estava a fazer nesse instante, ambos sabiam a importância de momentos como este, era pouco usual interceptarem transmissões,
A transmissão acabou e voltou-se a ouvir os ruídos e os choros tipicamente caracterizados pela presença dos outros, que terminaram num silêncio cortante .
Capitulo IV
Assim que chegaram á estrada principal depararam-se com uma devastação
total, mas sem a presença de qualquer OUTRO ao alcance da vista. Estavam carros
virados ao contrário, alguns completamente ardidos, havia vidros e estilhaços espalhados
ao longo do alcatrão e no meio disto tudo… Sangue, muito sangue, que manchava
as viaturas de vermelho tanto no exterior como no interior das mesmas, toda a
estrada era um leito de morte manchado de vermelho, o que deixava antever os
horrores que ali se tinham vivenciado.
- Vejam o que se pode aproveitar, mas acima de tudo tenham cuidado, um alarme que dispare e é o nosso fim. – acautelou Sam no momento em que abria a porta de um carro cinzento com os vidros partidos, a pintura riscada e manchada para a investigar.
Penny e Steven seguiram-lhe o exemplo, Steven começou por
revistar um carro preto comercial muito próximo de Sam, Penny saltou pelo
tejadilho de um carro branco completamente tornado vermelho pelo sangue
envolvente, de forma a verificar e o conseguia por a andar.
- Alguma novidade Penny?
- Não rapazes, já devem estar aqui á algum tempo…
- Acho que não estão assim á muito Penny, algum deste sangue
ainda não esta seco, existem poças de sangue fresco por todo o chão.
- Talvez tenhas razão Sam, se pensarmos bem acho que isto
foi causado por aquele bando de OUTROS que nos atacaram dentro de casa, eles
vinham de esta direcção… Pobres coitados, eram um grupo de sobreviventes como
nós. – Concluiu Penny com o pesar do destino a cair-lhe sobre as costas,
acrescentando-lhe um tom de receio a cada palavra proferida.
De carro em carro por onde eles passavam os corpos eram mais
e mais, praticamente todos comidos com grandes pedaços de carne arrancados e
pele arranhada e macerada, aqueles que ainda possuíam alguma carne restante em
suas faces denotavam pela sua expressão o horror pelo que tinham passado.
Sam deslocou-se até ao carro onde Penny se encontrava e observou ,o mesmo cadáver que esta estava fixamente a olhar, este cadáver que apenas havia sido devorado do pescoço para baixo, apresentava a pior cara de sofrimento que eles alguma vez haviam visto, mas Penny olhava para algo em concreto no cadáver.
- Olha ali! - acrescentou Penny com uma voz trémula apontando
para a perna do cadáver. Para onde esta apontava, estava uma chapa metálica
entre um pouco de carne coberta de sangue e o osso.
- Penny aquela chapa… Achas que é o que estou a pensar?
- Tenho medo de descobrir Sam, nem sei se quero saber da
verdade, pensei que já não havia mais e este está aqui á pouco tempo.
- Vou chamar o Steven, Penny ele tem de saber disto! Posto
isto Sam, saiu de junto de Penny e avançou para o meio dos outros carros em
busca de Steven que provavelmente estava por ali há procura de objectos úteis.
A dois carros de distância de onde Sam se encontrava, estava
Steven caído no chão junto de um carro branco completamente manchado de
vermelho e Steven estava ali, igualmente coberto por salpicos de sangue.
Sam ao ver o companheiro caído no chão começou a correr na
sua direcção de forma a ajudar.
- Steven! Steven! Oh não Steven! Estas bem? - clamava
desesperadamente Sam, na sua cabeça só lhe vinha á memória os arranhões que os
OUTRO’s haviam feito na cara de Steven.
Steven então levantou-se lentamente e começou a andar como
os OUTRO’s antes da 2ªa evolução, na direcção de Sam, que ao ver Steven a
levantar-se daquela maneira fica aterrado no seu próprio desespero.
- Ste… Steven! Não! – gaguejou o rapaz. Os olhos de Sam
estavam incrédulos, não querendo acreditar no que via, enquanto o seu rosto
ficava mais branco que muitos dos corpos em sua volta. Steven continuava a
arrastar-se até junto dele…
Foi então que Steven se desmanchou de personagem e mandou-se
de novo para o chão mas desta vez a Rir.
-hahahahhah desta vez apanhei-te!
- Ias-me matando! – Gritou Sam.
- A tua cara de pânico estava genial, havias de ter visto! –
Steven ria-se como se nada mais houvesse em sua volta.
- Não teve piada nenhuma, eu achei que o pior tinha
acontecido. Não teve piada! – reforçou Sam tentado recuperar o fôlego.
- Acalma-te um pouco Sam…
Sam aproximou-se e esmurrou-o no ombro.
- Nunca mais voltes a fazer isto, a situação já está
complicada o suficiente, nós os três agora somos uma família, se algum de nós
se tornar um OUTRO, os restantes tornaram-se OUTROS também… – prolongou Sam
olhando fixamente para os olhos de Steven que se encontrava visivelmente
arrependido.
- Tens razão, foi um pouco parvo da minha parte, mas não foi
por mal, e acredita que eu sei que só juntos é que vamos conseguir passar por
isto tudo até ao nosso objectivo. À cada vez mais OUTRO’s, o que significa que
a sobrevivência é cada vez mais difícil, e agora com a 2ªa evolução pior ainda,
mas eu não desisto Sam, nós não desistimos!
- Eu sei parceiro, eu tenho que é que acalmar-me e aceitar
melhor as brincadeiras, mas sabes como é, com este sobressalto todo…
- Eu sei Sam, não faz mal. – Steven então estendeu a mão para
Sam que lhe deu um aperto.
O tempo estava agora a ficar mais húmido, com cinzentas
nuvens, que pouca luz deixavam passar, a cobrir o céu, parecia que a chuva não tardava
em chegar até aquele lugar, mas apesar disso tudo á volta deles se mantinha num
quieto, inquietante.
- Eu e a Penny descobrimos algo importante, ela está á nossa
espera. – e assim com estas palavras Sam cortou o pesado silencio.
Começaram a caminhar por entre os carros manchados de
sangue, passando pelo meio dos estilhaços e corpos caídos que povoavam o chão. Não
foi preciso muito tempo para irem ao encontro de Penny, que se encontrava num
carro ao lado daquele em que estava o corpo.
- Rapazes, finalmente! Exclamou ela.
- Desculpa Penny, tivemos um pequeno percalço. Explicou Sam.
- Passou-se algo? Acrescentou a rapariga com um ar temeroso.
- Bem… - entrepôs Steven.
- Está tudo bem. – interrompeu Sam na tentativa de deixar
passar o assunto para não a preocupar.
- Ainda bem rapazes, é que vocês demoraram tanto tempo que
eu comecei a ficar preocupada, mas adiante, o Steven tem de ver o que encontrámos.
Penny saiu do carro de onde estava e aproximou-se do carro
onde estava o cadáver com cara apenas.
- Olha ali. – indicou ela apontando para o que restava da
perna.
Sam debruçou-se e olhou para a chapa de forma a analisá-la
melhor.
- È o que vocês estão a pensar de certeza.
- Sim, Steven, também concordas? Inquiriu Penny
encostando-se no carro cinzento.
- Mas eles não tinham morrido todos depois da primeira vaga?
Inquiria Sam, durante o instante em que tirava o pedaço de metal de entre a carne
humana putrefacta.
- Supostamente sim, mas afinal parece que ainda andam por
ai, este ainda está cá á pouco tempo. – acrescentou Steven.
- Mas também teve o mesmo destino que os amiguinhos, todos morrerão
ás mãos daquilo que soltaram. – finalizou Penny implacavelmente enquanto Sam ainda
olhava para a chapa, reparando na inscrição a laser lá feita.
- Steven, Penny! Chamou ele, olhem aqui na chapa esta inscrição.
– na chapa encontrava-se a seguinte inscrição.
“ Código 130393/SE.OUTROS
Zona D – Nick Carter”
- Então o nosso amigo Nick estava na “Zona – D” da
quarentena, como será que ele escapou? – Penny acabara de colocar a questão a
que nenhum deles sabia responder. Se a Zona D da quarentena foi uma das
primeiras a ser posta á solta, como é que Nick teria sobrevivido á primeira
vaga de OUTRO’s que varreram a cidade.
A pergunta ecoava na cabeça de cada um deles, sem qualquer
resposta…
A noite começava a cair, acompanhada da chuva pesada, que
era normal fazer-se sentir nesta altura do ano. Penny, Sam e Steven montaram
uma larga tenda e tecido azul, junto a uns arbustos que se encontravam ladeados
por dois carros, um deles verde e o outro vermelho, ambos estavam completamente
maltratados e espatifados. Steven ia juntando na frente da tenda pedaços de
madeira e folhas secas que ia encontrando de forma a juntar suficientes para
acender uma pequena fogueira.
- Sam, Steven! - chamou Penny no interior da tenda.
- Que se passa? –
respondeu-lhe Steven no momento em que pegava fogo às folhas com o auxílio de
um fósforo.
- Chama o Sam e venham aqui, acho que captei uma
transmissão! – Steven ao ouvir isto correu para ir ao encontro de Sam.
- Sam a Penny captou uma nova transmissão, temos de ir!
Dito isto Sam deixou em pausa o que estava a fazer nesse instante, ambos sabiam a importância de momentos como este, era pouco usual interceptarem transmissões,
principalmente depois
do que aconteceu no passado. Assim que entraram para o interior da tenda
depararam-se com Penny, sentada no chão, com um aparelho de plástico na mão,
que se assemelhava a um antigo telemóvel, mas todo alterado de forma a ser
capaz de captar qualquer sinal de transmissão em volta.
- Rapazes! – chamava ela enquanto acrescentava mais umas
peças ao seu aparelho.
- Tenho uma notícia para vos contar, consegui captar uma
transmissão feita ainda á pouco, não consegui identificar o local de que ela
foi feita, nem sei quem a fez, apenas percebi
o que era e a sua importância, depois de a descodificar, ela estava
oculta por gemidos e choros de OUTRO, encriptados numa estranha linguagem
ADS-XIII. – explicou a jovem rapariga de maquilhagem carregada.
- Mas que disseram Penny? Ansiavam os rapazes pela
desesperante novidade que Penny tinha para contar, mas que se mantinha num
total silêncio.
- Eu gravei a transmissão…
- Então porque não nos dizes? – questionaram os dois.
- Eu vou rebobiná-la, para vocês próprios ouvirem. – dito
isto Penny juntou mais duas peças de médias dimensões, que após serem
acopladas, fizeram o aparelho começar a emitir ruídos.
Ambos se sentaram , em volta do aparelho e seguiu-se mais
uma peça a ser encaixada por Penny e ai sim, a transmissão tornou-se
perceptível, e podia-se ouvir na
gravação:
“ A 2ª Evolução avança de uma forma que não estava prevista, não
recebo notícias do Nick á vários dias, sabes o que tens a fazer se ele não
chegar até ti dentro de algumas horas.”
A transmissão acabou e voltou-se a ouvir os ruídos e os choros tipicamente caracterizados pela presença dos outros, que terminaram num silêncio cortante .
A noite tinha caído e
a fogueira que Steven havia acendido, iluminava a negra noite dos três
sobreviventes, esta ardia de forma fugaz, lançando fagulhas pelo ar que
marcavam a ligeira neblina branca que se aproximava, a fogueira para alem de iluminar, perfumava também o ar
envolvente, enquanto jantavam no exterior da tenda.
- Penny, passas-me esse espeto? Pediu Sam.
- Sim, sim, toma! Acedeu Penny pegando no espeto de metal
cinzento e de cabo branco que estava colocado acima da fogueira.
Sam recebeu e agradeceu, e no espeto colocou alguns pedaços
de carne que haviam encontrado numa arca frigorífica na casa de campo onde pernoitaram
na noite anterior.
- Rapazes, aquela mensagem não me sai da cabeça, pensei que
eles já tinham sucumbido às mãos dos OUTRO’s… - perguntava Penny, enquanto
olhava para as estrelas que cintilavam e ao iluminar o grande céu, na noite
escura.
Ao ouvir isto o rapaz de cabelo loiro pousou lentamente o
espeto novamente acima da fogueira e fitou Steven nos olhos.
- Então e tu que achas Stee?
- Sinceramente? Nem sei o que pensar, eu achava eu pelo que
tinha acontecido, eles tinham desaparecido, nós vimos supostamente o último
deles a ser morto! -
Os olhos castanhos-mel
de Steven fixaram em contacto com a fogueira, que brilhava por entre a
neblina.
- Sabem o que eu acho rapazes? A 2ª Evolução não foi uma causa natural, acho
que a própria evolução, foram eles que a criaram! Mas isto é só a minha
opinião, não sei se estarei correcta ou totalmente errada ao pensar isto. –
monologou Penny fitando os dois rapazes de frente, nos seus trejeitos
denotava-se um certo temor em relação ao
caminho a seguir.
- Calma Penny… Acho que devemos esfriar a cabeça, de nada
nos serve estar aqui a especular sobre o futuro, o principal a ter em mente é
que ainda existem pelo menos dois deles, temos de nos empenhar em descobrir
quem eles são, e se são de uma suposta
nova formação ou se são remanescentes da formação original da organização. –
protestou Sam batendo com o punho cerrado no chão.
- Acho melhor irmos para dentro da tenda. – aconselhou
Steven.
- Estamos muito cansados, foi um dia extenuante. – continuou
Penny passando a mão suavemente pela cara de Sam.
Assim que Steven se levantou em direcção á tenda que se
encontrava ladeada pelos dois carros, Penny aproximou-se do ouvido e
sussurrou-lhe: “És o meu orgulho”. E em seguida beijou-lhe a face e ajudou-o a
levantar e juntos, seguiram na direcção da tenda.
O interior da larga tenda de tecido azul, achava-se quente e
acolhedor, sem qualquer perturbação, o intercomunicador continuava sereno, sem
nada de novo captado. Os três sentaram-se no chão da tenda sobre mantas e
cobertores a apreciar o raro momento de descontracção que estavam a ter, e
assim continuaram durante mais algum tempo, na brincadeira e na conversa até
caírem no sono no meio da rara comodidade. Todo menos Steven, que ainda se
manteve acordado, não conseguia deixar de pensar na gravação vezes sem conta,
pois mesmo apesar de tudo o que eles já tinham passado, ainda existiam membros
da organização no activo ao que parecia. O que significava que alem de terem de
se proteger dos OUTRO’s que desejavam a sua carne, tinham agora que ter também
um cuidado redobrado pois não sabiam se estas três pessoas seriam ou não de uma
nova organização… Por fim, Steven conseguiu finalmente cair no sono, embalado
pelos seus fantasmas do passado, que agora se misturavam com os do presente.
Penny, que caíra no
sono muito antes de Steven, acordou no meio da escuridão por culpa do frio que
se abatera sobre a tenda. A jovem rapariga sentou-se no chão, e reparou que a
luz azul do seu intercomunicador estava acesa. Ao ver isto, esticou-se para o apanhar,
sentindo todo o seu corpo a estalar de forma audível.
Quando finalmente conseguiu alcançar o aparelho, a luz
começou a piscar mais intensamente, o que significava que algo estava a ser
captado, podia ser mais uma transmissão misteriosa, por isso aproximou-o do
ouvido de forma a escutar melhor.
“O Nick está morto, acabámos de encontrar o corpo dele num
grande amontoado de carros, vamos continuar as buscas pela arma e pelo Steven
de qualquer forma, dentro de algum tempo, envio o relatório.”
Penny pousou o aparelho e apagou a luz que havia acendido
para iluminar a tenda, lá fora nada se ouvia, apenas umas fracas luzes se
tornavam visíveis por embaterem na parte frontal da tenda, o coração da
rapariga disparou e recuou para trás de forma a acordar os dois rapazes que
profundamente dormiam, cada um para seu lado.
- Sam! Steven! – chamava ela enquanto os abanava.
- Penny, deixa-me dormir. – resmungou Sam.
- Sam, eles estão aqui! Encontraram o corpo do Nick e agora
procuram o Steven!
Eles quem Penny, eles quem? – perguntou Sam, olhando para
ela com um olho semi-cerrado e outro aberto.
- Não sei Sam, houve uma nova transmissão e eles disseram
que estavam no carro do Nick. – respondeu Penny ofegante e desesperada.
Sam de sobressalto abriu os ohos, levantou-se e pôs-se a
chamar por Steven, que tinha acordado entretanto.
- Eles procuram por mim? Não pode ser! Eles tinham
desaparecido…
- Steven não á tempo a perder, temos de te proteger! –
exaltou Sam, no instante em que vestia o seu casaco preto.
- Não Sam, não vos quero por em risco, é a mim que eles
querem… - acrescentou Steven olhando para as luzes que cada vez mais fortes, embatiam
no tecido azul da tenda.
Penny que permanecera calada durante esta conversa, decide
intrometer-se na acção.
- Steven eles procuram-te por aquele motivo especial, mas tu
ajudaste-nos, eles sabem que nós somos! Deve haver também um prémio pelas
nossas cabeças, com ou sem sangue a correr nas veias ainda. Se não fosse por ti
, nós não estaríamos aqui, a respirar contigo… a resistir contigo… a lutar
contigo!
Penny enxaguou as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto e
lhe levavam a maquilhagem para fora do contorno nos olhos, Steven e Sam,
estavam estupefactos a olhar para ela.
- Steven, ela tem mais que razão. – disse Sam, colocando a
sua mao sobre o ombro do amigo.
- Acho que sim… Obrigado por tudo… Família!
As lágrimas escorriam agora pelo rosto dos três amigos, que
juntaram as mãos e como se de uma oração de incentivo se trata-se disseram: “
Juntos no fim, Juntos contra os outros!”.
- Vamos a isto rapazes, não podemos ser vistos, já tem tudo?
Esqueçam a tenda… - ordenou Penny no momento em que abria o fecho de correr da
tenda para poder espreitar.
Ao meter a cabeça de fora repara que as luzes não estão
assim tão longe e avista cinco homens, cada um deles vestido de igual forma,
com calças pretas, colete cinzento, com luvas sem as pontas a cobrir os dedos e
por fim armas, eles traziam armas consigo.
Penny recolheu a cabeça novamente para dentro da tenda e
relatou o que acabara de ver.
- Não há dúvida, são eles… - Sussurrou Steven.
- Temos de arranjar outra saída. – acalmou Sam olhando em
sua volta. – Penny passa-me uma das tuas facas, vamos fazer um buraco no fundo
da tenda, acho que nos podemos escapar pelas traseiras.
Penny puxou do seu colete uma faca dourada e pousou-a na mão
de Sam, que pegou nela com cuidado e no meio da escuridão da tenda a aproximou
do pano de forma a perfurá-la. A faca trespassou suavemente e silenciosamente o
tecido e Sam começou a engendrar o local da fuga.
Aberta a saída, apressaram-se a sair para o frio e húmido nevoeiro,
característico do clima da região, os três olharam em volta e conseguiram ver
os cinco homens, afastados deles, cerca de 100metros, equipados com potentes
lanternas que lançavam grandes torres luminosas no ar, cada uma delas na sua direcção,
esta luz ao embater nas viaturas, criavam altas sombras que se espelhavam por
todo o chão e se reflectiam nos altos pinheiros que ladeavam a estrada, onde os
três se encontravam.
A azáfama da fuga havia começado, e era mais difícil fugirem,
estando carregados com as pesadas mochilas.
As luzes começavam-se a aproximar novamente para perto
deles, após um pequeno desvio. No ar mantinha-se um frio cortante e a neblina
ficava cada vez mais cerrada.
- Penny entra naquele carro e tenta pô-lo a funcionar! –
ordenou Sam ao apontar para um carro azul-escuro.
- Sam, não será muito perigoso? – indagou Steven.
- Acho que é a melhor opção dentro do possível Steven, senão
não vamos conseguir sair daqui.
Ao fim de dizer isto, Penny escapou-se graciosamente para o
dito carro azul, abrindo vagarosamente a porta de forma a não ser vista ou
ouvida.
Steven e Sam, seguiram-lhe o rasto e juntaram-se a ela,
entrando silenciosamente para dentro do carro azul-escuro, onde esta se encontrava.
- Como vai isso parceira? – questionou Steven enquanto
fechava lentamente a porta dianteira.
- Já me liguei ao computador do carro, mas ele continua
offline, não estou a mantê-lo suficiente tempo ligado para o por a funcionar. –
respondeu nervosamente Penny.
- Oh não eles estão quase aqui! Steven e Penny olharam para
trás e viram que os cinco homens caminhavam freneticamente na sua direcção.
- Que vamos fazer? Penny?
- Rapazes o carro não funciona, não conseguiremos sair
daqui! – Penny pousou a cabeça no volante em sinal de desistência.
Os homens de colete cinzento aproximavam-se a toda a
velocidade do carro.
- Vamos sair do carro! Metam-se por debaixo dele! – Ordenou Sam.
- Vamos! – responderam os outros dois rapidamente e em
conjunto.
Então os três, da mesma forma que entraram na viatura, também
dela saíram, tão rapidamente que Penny nem tempo teve de desligar os cabos que
havia ligado ao computador de bordo.
Uma vez no exterior, sentiram os homens a chegar perto deles
logo após terem rastejado para debaixo do carro. O coração de cada um deles
parou assim que se sentiram rodeados, de repente o carro começa a fazer barulho…
- Bem, Bem, Bem, que temos nós aqui? Uma ligação directa?
Esta voz era-lhes familiar, mas nem por um segundo quiseram
acreditar que pertencia a quem eles julgavam morto. Não queriam acreditar que
seria quem eles pensavam que fosse.
Um dos homens baixou-se e iluminou por baixo do carro, a luz
iluminou Penny Sam e Steven e sem aviso apagou-se e cada um deles foi agarrado
pelas pernas e arrastado de debaixo da viatura.
Passados alguns instantes, a luz do intercomunicador começou
a piscar freneticamente na tenda, iluminando o silêncio da escuridão, uma nova
mensagem estava a ser transmitida.
“Encontrámos o Steven… E como bónus, levamos até si o Sam e
a Penny. Oliver a desligar.”
A luz do intercomunicador apagou-se e a escuridão reinou
novamente.
Fim.