2ª Evolução.



Capitulo I



“Alguns disseram que a culpa é do governo, outros culparam os erros do passado, eu culpo outras situações que nos condenaram a este destino.”

O sol já se começava a esconder, Sam pousou o copo de água sobre a mesa, nada se ouvia, caminhou em direcção a uma outra divisão da casa que tinham assegurado na noite anterior. Toda esta nova divisão permanecia escura e inexplorada, havia sido ocupada anteriormente , pois tinha tudo para ser o local ideal de ocupação dos outros, era húmida e tinha pouca luz. Sam caminhou em direcção ao escuro, quando se aproximou da porta da divisão, esta fechou-se. Instintivamente num movimento mecânico-organico Sam, puxou da sua arma e apontou na direcção da porta até que ouviu uma voz por traz dele.


 - Calma Sam! Pousa a arma, ainda te magoas.

Esta voz era-lhe familiar e ele sabia exactamente quem estaria atrás dele, mas depois de tal susto, virou-se ainda em modo defensivo do que poderia vir ai. Ao virar-se completamente deparou-se com aquilo que já estava a espera de encontrar, uma rapariga de traços jovens, olhos claros com maquilhagem carregada preta e cabelo de uma cor vermelho - arroxeada que trazia na cara um sorriso e nas mãos uma espécie de caixa metálica.

 - Penny, que raio de ideia foi esta?

 - Acalma-te Sam, já te esqueceste do que é brincar? Já tivemos sustos maiores que isto. Tenho algo novo para te mostrar, é o meu mais recente mecanismo de defesa contra os outros.

- Como é que uma porta que se fecha sozinha nos vai ajudar a defender-nos contra os outros?

- Tens mesmo cabeça dura, olha com atenção!

Sam aproximou-se da Porta e viu um mecanismo que possuía duas luzes a piscar.

- Para alem de ele fechar a porta quando alguém se aproxima, deixando quem esta no interior da divisão seguro. Prosseguiu Penny. - Se eu apertar aqui o sistema de auto-defesa activa-se… e se… espera um pouco, afasta-te.

Sam recuou e Penny seguiu o exemplo, ambos deram uns passos atrás.

- Agora observa e tenta aprender! Acrescentou sarcasticamente Penny enquanto apertava um pequeno botão verde na caixa metálica que tinha nas mão. Logo a seguir sem aviso prévio pegou numa cadeira de madeira escura e podre e arremessou-a contra a porta que prontamente a fez explodir em chamas com o contacto.

- Wow Penny! Como é que nunca te lembraste disto antes? És genial, ainda bem que impedi que te tornasses um dos outros.

- Oh Sam, lembra-te que isto não foi nada que eu já não tenha tentado anteriormente, apenas aperfeiçoei o dispositivo e reformulei a forma dele.  E em relação ao que disseste dos outros, nunca me vou esquecer desse dia, dessa memória que também nunca irei apagar.

- A vida está a ficar complicada parceira…

Sam abriu os braços de forma a agarra Penny e aconchegou-a perto de si, uma pequena sessão de mimo que prontamente foi abalada por um enorme estrondo vindo do piso superior da casa. Sam preparou logo a sua arma, carregada e pronta a disparar, Penny também tirou logo do seu colete uma faca de guerra pronta para qualquer ameaça.

- Sempre atrás de mim. Sussurrou Sam olhando para a rapariga de cabelo vermelho -arroxeado.

Dito isto, voltou-se e seguiu na frente de Penny até ao inicio da escadaria, pé ante pé, fazendo o mínimo de ruídos possível. Ao cimo das escadas via-se uma luz trémula e mais barulhos, parecia ser algo orgânico como o som de alguém a murmurar.

- Achas que algum dos outros ficou cá dentro? Indagou Penny Subindo degrau a degrau logo após o companheiro.

- Não pode ser, a casa ficou limpa depois do que aconteceu ontem há noite. Retorquiu Sam friamente enquanto acelerava o passo, tendo em vista o fim da escadaria. E por fim achavam-se de frente para o quarto de onde vinha o barulho, então os dois duramente irromperam pelo quarto de luz trémula a dentro, onde se depararam com uma confusão tremenda de vários objectos e principalmente discos de vinil espalhados pelo chão. Os murmúrios continuavam a ouvir-se, e cada vez mais audíveis, este murmurar parecia vir de dentro de uma armário de parede que se achava na outra ponta do quarto, os murmúrios pareciam agora ter sido trocados por algo que se assemelhava a preces, como se alguém estivesse a rezar. Sam Fez sinal a Penny enquanto se aproximava do armário para lhe lançar uma das suas facas de guerra que levava presas ao colete, pedido a que esta prontamente acedeu, e com um simples e rápido movimento lançou a faca que graciosamente caiu nas mãos do Sam.

- Não saias dai, eu vou lá, cobre-me a retaguarda. Dito isto o rapaz de cabelo loiro piscou o olho e avançou na direcção pretendida, sem fazer um único som até encostar a mão na maçaneta do armário de porta branca, que começou a rodar. De repente as preces começaram-se a tornar mais audíveis, Sam começou a entender as palavras proferidas do outro lado da porta “Ajuda-me a ser forte contra os outros, ajudai-me a derrotar este mal” e esta frase ia sendo repetida continuamente até que Sam rodou totalmente a maçaneta e ao abrir a porta sai de dentro do armário um homem baixo, entroncado e de cabelo preto a correr aos gritos.

O homem correu até uma parede e apercebeu-se que nada se tinha mandado contra ele, virou-se repentinamente e deu de caras com os intervenientes.

- Sam? Penny? São Vocês? Erm… Disse o homem a tremer, ofegante e esfregando uma mão contra a outra, nervosamente.

- Sim somos nós, e tu és tu ou és um dos outros? Que valente susto que nos pregaste Steven!

- Foi de Propósito!

- De propósito? Acrescentou Penny Indignada com a resposta.

- Só para ver se estavam preparados para um ataque, eu não estava nada assustado, eu estava á espera que fossem vocês é isso, estava a espera que fossem vocês. Finalizou o homem de cabelo preto enquanto limpava o suor da testa e o pó das suas roupas ainda com as mãos a tremelicar.

- Pois Steven, já não nos enganas mais, favas ali dentro a dizer  “Ajuda-me a ser forte contra os outros, ajudai-me a derrotar este mal” e olha que te ouvi repetir isto mais do que uma vez. Retorquiu Sam amistosamente e em tom de gozo enquanto remexia nos vinis que se achavam espalhados pelo quarto. – Thriller? Nunca um tema foi tão apropriado a uma situação, até parece que ele já sabia que os outros ai vinham.

- Naaaa, isso era imaginário, o que tu enfrentas é a realidade. Respondeu prontamente Steven enquanto se aproximava de Penny de forma a entregar-lhe duas navalhas que havia encontrado.

- Obrigado, são lindas! Agradeceu Penny sentindo-se lisonjeada pelo singelo gesto de Steven enquanto observava com a atenção cada detalhe da manufactura das suas novas navalhas.

Sam aproximou-se dele e os três abraçaram-se por baixo da ainda trémula luz do candeeiro que alumiava o quarto. E em coro e voz alta disseram enquanto agarrados: “Juntos no fim, Juntos contra os outros!” E no quarto logo de seguida fez-se um silêncio perturbador, pois não era um silencio qualquer, era um silencio pesado, pois cada um estava neste momento a pensar em tudo pelo que tinham passado até este ponto.

- Vá rapazes deixem-se disso, temos trabalhos pela frente e temos que nos manter mais unidos que nunca, não esqueçam o que já passámos ate agora, mas lembrem-se que ainda existe muito para fazer e olhem que não vai melhorar a partir de agora, mas enquanto houver esperança não cruzaremos os braços, nunca desistam, nunca, nunca, nunca! Apoiou Penny enquanto ainda as lágrimas lhe escorriam pela cara a baixo.



Capitulo II


O dia já estava a nascer e consigo trazia a luz que iluminava o mundo desolado fora da janela quando Steven acordara, teria dormido melhor como os outros dois companheiros, não fossem algumas das memórias que ele não conseguia tirar da cabeça, onde só ecoavam as palavras de um momento em específico: “Cuidado pai! Os outros chegaram aqui!”, podia-se lembrar e ter a terrível visão do momento a qualquer altura. Parou e olhou fixamente para o reluzir das gotas de água na janela com o embater do sol, onde cada gota era capaz de descodificar o feixe solar que nelas embatia, nas 7 cores que compõem o arco-íris. Começou a observar com uma atenção mais pormenorizada o mundo exterior completamente desolado, onde outrora se viam as pessoas nas rotinas diárias. Viam-se agora a ruínas do que os outros antes de se tornarem os outros construíram.

- Continuas sem conseguir dormir? Deixa-me adivinhar, os fantasmas do passado? Sam voltou-se para encontrar Penny ainda de pijama atrás de si.

- Sim, continuo a relembrar-me vezes se conta daquele momento todas as noites, se ao menos…

- Se ao menos nada! Não te culpes, chega! Fizeste o que podias Sam, e se aquelas pessoas tiverem vivas até agora a ti o devem. Irrompeu a rapariga antes que Steven disse-se algo que podia vir-se a arrepender.

- Obrigado. Steven mal teve tempo de agradecer pois Sam entrou pela cozinha a dentro na direcção dos dois.

- Bom dia aos dois, já repararam no que se esta a passar lá fora? Inquiriu Sam com um ar de extrema preocupação.

- Ainda agora olhei através da janela e tudo me pareceu estar calmo. Contrapôs Steven de ar indignado.

- O que se passa Sam? Questionou Penny enquanto engolia em seco devido ao nervoso miudinho que lhe nascera na barriga.

- Vi que se aproxima da casa um bando. Ainda estão longe, mas não devem demorar muito a chegar, olhem. Sam levantou a mão e apontou na direcção da janela iluminava fracamente a cozinha onde se encontravam.

Steven e Penny observaram o exterior que se achava um pouco escuro devido ás nuvens chuvosas e escuras que se abateram sobre a área envolvente da casa, e constataram aquilo em que não queriam acreditar. Na linha do horizonte podia ver-se um bando de pelo menos 30 Outros a aproximarem-se na direcção da casa, o coração de cada um dos dois parou e o sangue que lhes corria nas veias, parecia ter congelado e estagnado dentro delas.

- Não entrem em pânico acalmou Sam.

- O que fazemos? O que fazemos? Como é que nos encontraram? Questionava Penny enquanto remexia as gavetas da cozinha em busca de armas.

- Calma! Gritou Steven em voz altiva e continuou. Sam, sabes o que tens a fazer e tu Penny reúne todo o armamento aqui, e já agora comida também, não sabemos quanto tempo demorarão eles a passar.

Dito isto Sam e Steven começaram a desmanchar mesas e cadeiras de forma a ficarem em pedaços capazes de pregar nas janelas e portas de acesso ao exterior, tudo isto feito de forma rápida, precisa e nervosa. Penny encontrara um grande conjunto de facas de guerra no sótão da casa e pousou-as pesadamente fazendo um grande estrondo.

- Penny! Exclamou Steven.

- Tens de ter cuidado, fazer barulho só vai chamar mais a atenção dos outros!

- Deixem-se disso, a Penny não fez por mal. Ordenou Sam freneticamente.

- Olhem lá para fora, eles já estão a menos de cem metros da casa.           

E o olhar de terror invadiu novamente os três companheiros que observavam o bando a aproximar-se cada vez mais da casa.

- Nem mais um barulho nem um único ruído, metam-se ali por trás daquele armário. Ordenou novamente o rapaz alto e de cabelo loiro no ar.

Apressaram-se silenciosamente para se posicionarem atrás do armário, no meio do escuro apenas quebrado pelas pequenas frestas que por entre as tábuas e pedaços de madeira, deixavam transparecer a luminosidade exterior. Começavam agora a sentir o aproximar dos outros, com passadas lentas. Pesadas e por vezes arrastadas.
Para alem do batimento cardíaco dos três companheiros, apenas se ouvia o grunhir e o gemer dos outros no exterior. Que pareciam estar a passar lentamente pela casa sem pressentirem presença viva no interior da mesma.

- Parece que já seguiram. Sussurrou Penny para os companheiros.

Dito isto e posto em evidencia, os três levantaram-se e começaram a andar até á porta principal da casa.

- Acho que tens razão Penny, não se ouve ruído nenhum lá fora, parece que já passaram mesmo, mas de qualquer forma continuem sem fazer barulho, nunca se sabe se pode haver algum ainda aqui a rondar. Constatou o mais alto dos dois rapazes enquanto se dirigia até á porta.

Entretanto de um móvel castanho-escuro de pequenas dimensões mas muito trabalhado e ornamentado, tomba uma jarra de porcelana pouco trabalhada, pintada de amarelo e coberta de pó, que ostentava uma grande quantidade de girassóis murchos. Esta rebola pelo móvel até embater no chão, fazendo um grande estrondo e encharcando o chão de agua e espalhando os girassóis murchos.

Os três deram um salto de susto mas abafando todo e qualquer grito que se pudesse soltar e dão uns passos atrás, mas Steven em vez disso avança na direcção da jarra de forma a apanhá-la e repara que pelas frestas da porta algo está junto á porta no exterior, algo que lhe pareciam ser dois pés, um deles calçado com uma bota de tropa e outro descalço sem dois dos dedos e os restantes três dedos todos sujos com a pele num tom branco-esverdeado. Os olhos petrificaram de pânico á medida que via mais sombras no exterior a aproximarem-se da porta principal.

Steven bloqueou naquele momento. Ainda tentou acenar aos companheiros para estes não fazerem qualquer som, mas o seu próprio corpo congelara naquele instante. Sam e Penny, que estavam uns passos atrás, repararam que algo não estava bem e aproximaram-se de Sam , que de súbito descongelou e soltou um grito.

- Não se mexam! O pior foi que este grito foi tão audível que no exterior se começou a ouvir murmúrios, choros e a porta principal começou a ser violentada e remexida pelo que estava no exterior.

Steven, Sam e Penny voltaram a petrificar em torno da porta principal.

- Escondam-se, levem tudo o que puderem para o andar de cima da casa, temos de bloquear a escadaria. Disse Sam enquanto caminhava apressadamente para arrastar o pequeno móvel onde estava a jarra de girassóis para a frente da porta.

Estava instalado o caos na casa, Sam e Steven apresavam-se a arrastar todo o mobiliário possível enquanto a porta ainda conseguia aguentar os outros no exterior.

- Penny, trata das armas!

- Sam, vamos buscar aquele armário grande ali ao lado das escadas, temos que lhes dificultar ao máximo a entrada!

O desespero ia aumentando e desta vez os três jovens faziam muito barulho no interior da casa. De repente ouve-se o partir de vidros, a casa começava a ficar completamente cercada e isso denotava-se á medida que mais e mais gemidos e murmúrios se iam ouvindo no exterior.

- Sam, Steven! As armas estão a postos! Gritou Penny.

- Então vai para cima Penny e verifica todas as janelas! Retribuiu Sam enquanto que com a ajuda de Steven arrastava a mesa da cozinha para a escadaria.

- Acho que é melhor subirmos, aquela porta não vai aguentar muito mais. Assim que Steven acabou a frase ouve-se mais um vidro de uma janela a ser partido fazendo um enorme barulho.

- Eles estão a entrar olha!

A porta principal é derrubada e sedentos por carne os outros entram pela casa como já havia sido á duas noites anteriores, Sam e Steven apressaram-se a escalar a mobília espalhada e colocam-se no andar de cima. Escondidos atrás de uma velha mesa de madeira clara. Marcada de cortes e de bases de copos, de onde observam a 2ª fase da evolução dos outros.
Criaturas que até á pouco tempo eram humanos e que agora não possuíam alma, estavam completamente em decomposição, muitos deles já sem grandes bocados de carne ou ate mesmo com membros do corpo decepados, os olhos vazios, muito vascularizádos em alguns casos ou muito amarelados noutros, dependendo do estágio da sua evolução, no fundo todos eles estavam mortos, já não eram as pessoas que costumavam ser, eram mortos-vivos por assim dizer, sedentos de sangue carne humana. Predadores natos de instinto animal que procuram alimento noite e dia sem descanso.

E neste ponto haviam três pedaços de carne fresca que eles ambicionavam dentro da casa.

Sam fez sinal para nenhum dos parceiros fazer um único som e permanecerem imóveis. Os Outros começaram a andar pela casa á procura do seu alimento, ouviam-se os gemidos, os murmúrios, o respirar acelerado e o arrastar de muitos deles. Este barulho para alem de vir do piso inferior, começava agora também a vir do piso superior onde os três se encontravam e ao olharem para trás viram que um dos outros se achava no final do corredor a caminhar na direcção deles, Penny soltou um grito e a confusão instalou-se novamente o outro que se achava no final do corredor olhou directamente para ela através do seu único olho e começou a caminhar mais rapidamente na direcção deles, enquanto os outros do piso inferior começaram também a soltar guinchos e a gemidos muito mais altos do que até este ponto, enquanto subiam pelos armários e mesas, cada vez mais aglomerados na direcção deles.
Steven pegou rapidamente numa arma e friamente com precisão acertou no único olho do outro do piso superior, o qual foi trespassado pela bala e que fez com que o outro caísse no chão novamente morto.

- Um já caiu, só mais uns e acabamos isto. Gritou Steven em tom d Guerra enquanto corria na direcção do outro no chão e lhe pisava a cabeça, despedaçando-a.

Sam e Penny também estavam de armas em riste a apontar para os que subiam pelas escadas e sobre os moveis com o ar vazio que os caracterizava.

- Eles estão a conseguir chegar cá a cima, são demasiados! Gritava Penny enquanto tentava abater os que mais se aproximavam com a sua fiel catana.

- Vamos ter de continuar a resistir e fugir para fora da casa… se conseguir-mos! Exclamou Sam de Sniper em riste apontando as varias cabeças semi-descarnadas que se iam juntando.

De súbito os outros ganharam mais companheiros e começaram a aproximar-se cada vez mais da principal barreira de defesa. Um deles consegue partir a mesa onde anteriormente Sam, Penny e Steven se haviam escondido e passa até ao corredor agarrando Sam.

- Socorro! Gritava o Sam enquanto o outro o agarrava tentando morde-lo.

Steven apareceu por trás do outro e deu-lhe um pontapé em cheio na cabeça, arrasando-o para o chão onde lhe pisou a cabeça que se desfez em mil pedaços.

- Estás bem?

- Sim, mas ele era bastante forte.

- Rapazes, menos conversa e mais cabeças despedaçadas, senão não aguentamos muito mais! Vou experimentar uma coisa. Gritou Penny agarrando em duas granadas das quais tirou o bloqueio e as arremessou para o piso inferior.

- Baixem-se rapazes!

As granadas explodiram fazendo um enorme estrondo que fez com que a casa estremecesse e um grande clarão de chamas se propaga-se até ao corredor do primeiro andar, desfazendo em pedaços de carne e sangue os outros que se encontravam dentro de casa.

- Que golpe de génio Penny.

- Obrigado Sam. Agradeceu Penny ainda ofegante. - Agora temos de ir embora, a explosão fez demasiado barulho e outros grupos podem ter ouvido.

- Steven estás bem? Questionou Sam olhando para o homem de cabelo preto que se encontrava com alguns arranhões na cara.

- Estou, isto não é nada, ainda está para vir o outro que me faça parar!

- Gosto de te ouvir falar assim! Penny tu estas bem não estás?

- Sim, estou pronta para outra, os meus níveis de adrenalina estão ao rubro segundo o meu relógio!

- Ainda bem malta, peguem nas mochilas, vamos sair da casa!



Capitulo III



- Prontos para seguir caminho? - Perguntava o rapaz mais novo do grupo, Sam.
- Por mim sim, já não aguento nem mais um segundo nesta casa. – acrescentou a rapariga do grupo, de cabelo vermelho-arroxeado.

- Temos de sair já, daqui a nada anoitece, já tenho as tendas e as lanternas na mochila malta. – ordenou o rapaz mais baixo do  grupo.

- Vamos então. – Clarificou Sam, seguindo na frente. – Steven, como estão os teus arranhões? Isso não me parece nada bom, achas que…

- Não é nada, não te preocupes. - Acalmou Steven colocando um penso sobre o arranhão que tinha na cara.

- Então vamos. – Sam seguiu na frente do grupo.

- A pequena quinta onde se encontravam estava agora deserta, parecia que tinham conseguido acabar com o grupo todo de uma assentada, o que culminou numa maré de entranhas, e pedaços dos corpos espalhados pela casa de onde saíram. Nada se passava á volta deles, a calma havia retomado, só parecia mesmo faltar a rotina das pessoas que ali um dia fizeram as suas vidas.

- Para onde vamos nós agora? – Questionava Steven quando abrandou o passo.

- Temos de ir para norte, já vimos como está o sul. – respondeu Sam e continuou Steven as perguntas.

- E em relação á capital Penny?

- A última vez que tentei contactar com eles foi quando nos avisaram das proporções que a 2ª Evolução estava a tomar.

- 2ª Evolução… Quem diria que eles em tão curto espaço de tempo conseguiriam ter uma evolução tão rápida. – acrescentou Sam.

- Nos sabemos o que nos levou a este destino… Arriscou Penny entre-dentes.

- Claro que sabemos, já tivemos de lidar de caras com a verdade… Pena que o resto do mundo não saiba o que se passou na realidade como nós vimos. – respondeu Steven prontamente enquanto pegava na Sniper que estava presa na parte de traz do colete de Penny e a apontava para a cabeça de um OUTRO que vagueava junto de uns arbustos sozinho e afastados deles.

- Não dispares! - impediu Sam.

- Ele não nos viu, e o som do projéctil poderia bem ser um chamariz sonoro para mais alguns OUTROS que se encontrem por aqui perto.

- Rapazes! Tracei no mapa a nossa rota até á próxima cidade, preciso de mais algumas peças e devíamos ver se arranjamos alguma comida que ainda esteja boa. Indicou Penny mostrando um mapa colorido com um traçado feito manualmente a caneta roxa.

- E quanto tempo leva até lá chegar-mos? E sabes se está lá aquilo que tu queres Penny? – questionaram prontamente os dois rapazes.

- Baby’s tenham calma a idade dos porquês já vos passou, penso eu não é! Disse Penny em voz de troça e olhando para eles de cima a baixo. – Respondendo á vossas questões… Se arranjar-mos algum veiculo que funcione em condições ali á frente na estrada principal, - apontando o dedo para uma estrada que já não se encontrava muito longe deles. – Talvez cheguemos lá em poucas horas, senão contem só lá chegar amanha ao raiar do dia. – prosseguiu Penny enquanto olhava para o relógio.

- Então e vamos continuar a falar ou vamos procurar um carro que nos leva até lá? – acrescentou Steven sarcasticamente.

- Tens razão, não temos mais tempo a perder, ponham as mochilas novamente às costas e vamos. – indicou Sam, á medida que o OUTRO que ele tinha impedido que Steven disparasse contra se aproximava.

Este tinha metade da cabeça transfigurada enquanto a outra metade mantinha ainda os traços humanos originais, não fosse o facto de um dos seus olhos estar pendurado apenas por alguns nervos.

Baixem-se rapazes. – murmurou Penny enquanto tirava do seu colete uma das suas facas de atirar.

Os rapazes baixaram-se até ao chão e Penny sem qualquer hesitação, atirou a faca de cabo preto e lamina afiada que trespassou a garganta do OUTRO tão rapidamente quanto o seu som ao cortar o vento, com uma brutalidade tal, que a cabeça se separou do resto do corpo e ambos caíram no chão.

- Este não evolui mais… Vamos! A estrada principal deve-nos trazer algo de bom e é sempre útil para procurar alguns mantimentos. - concluiu Penny esboçando um largo sorriso no instante em que ajudava Sam e Steven a levantarem-se do chão.


Capitulo IV




Assim que chegaram á estrada principal depararam-se com uma devastação total, mas sem a presença de qualquer OUTRO ao alcance da vista. Estavam carros virados ao contrário, alguns completamente ardidos, havia vidros e estilhaços espalhados ao longo do alcatrão e no meio disto tudo… Sangue, muito sangue, que manchava as viaturas de vermelho tanto no exterior como no interior das mesmas, toda a estrada era um leito de morte manchado de vermelho, o que deixava antever os horrores que ali se tinham vivenciado. 

- Vejam o que se pode aproveitar, mas acima de tudo tenham cuidado, um alarme que dispare e é o nosso fim. – acautelou Sam no momento em que abria a porta de um carro cinzento com os vidros partidos, a pintura riscada e manchada para a investigar.

Penny e Steven seguiram-lhe o exemplo, Steven começou por revistar um carro preto comercial muito próximo de Sam, Penny saltou pelo tejadilho de um carro branco completamente tornado vermelho pelo sangue envolvente, de forma a verificar e o conseguia por a andar.

- Alguma novidade Penny?

- Não rapazes, já devem estar aqui á algum tempo…

- Acho que não estão assim á muito Penny, algum deste sangue ainda não esta seco, existem poças de sangue fresco por todo o chão.

- Talvez tenhas razão Sam, se pensarmos bem acho que isto foi causado por aquele bando de OUTROS que nos atacaram dentro de casa, eles vinham de esta direcção… Pobres coitados, eram um grupo de sobreviventes como nós. – Concluiu Penny com o pesar do destino a cair-lhe sobre as costas, acrescentando-lhe um tom de receio a cada palavra proferida.

De carro em carro por onde eles passavam os corpos eram mais e mais, praticamente todos comidos com grandes pedaços de carne arrancados e pele arranhada e macerada, aqueles que ainda possuíam alguma carne restante em suas faces denotavam pela sua expressão o horror pelo que tinham passado. 

Sam deslocou-se até ao carro onde Penny se encontrava e observou ,o mesmo cadáver que esta estava fixamente a olhar, este cadáver que apenas havia sido devorado do pescoço para baixo, apresentava a pior cara de sofrimento que eles alguma vez haviam visto, mas Penny olhava para algo em concreto no cadáver.

- Olha ali! - acrescentou Penny com uma voz trémula apontando para a perna do cadáver. Para onde esta apontava, estava uma chapa metálica entre um pouco de carne coberta de sangue e o osso.

- Penny aquela chapa… Achas que é o que estou a pensar?

- Tenho medo de descobrir Sam, nem sei se quero saber da verdade, pensei que já não havia mais e este está aqui á pouco tempo.

- Vou chamar o Steven, Penny ele tem de saber disto! Posto isto Sam, saiu de junto de Penny e avançou para o meio dos outros carros em busca de Steven que provavelmente estava por ali há procura de objectos úteis.

A dois carros de distância de onde Sam se encontrava, estava Steven caído no chão junto de um carro branco completamente manchado de vermelho e Steven estava ali, igualmente coberto por salpicos de sangue.

Sam ao ver o companheiro caído no chão começou a correr na sua direcção de forma a ajudar.

- Steven! Steven! Oh não Steven! Estas bem? - clamava desesperadamente Sam, na sua cabeça só lhe vinha á memória os arranhões que os OUTRO’s haviam feito na cara de Steven.

Steven então levantou-se lentamente e começou a andar como os OUTRO’s antes da 2ªa evolução, na direcção de Sam, que ao ver Steven a levantar-se daquela maneira fica aterrado no seu próprio desespero.

- Ste… Steven! Não! – gaguejou o rapaz. Os olhos de Sam estavam incrédulos, não querendo acreditar no que via, enquanto o seu rosto ficava mais branco que muitos dos corpos em sua volta. Steven continuava a arrastar-se até junto dele…

Foi então que Steven se desmanchou de personagem e mandou-se de novo para o chão mas desta vez a Rir.

-hahahahhah desta vez apanhei-te!

- Ias-me matando! – Gritou Sam.

- A tua cara de pânico estava genial, havias de ter visto! – Steven ria-se como se nada mais houvesse em sua volta.

- Não teve piada nenhuma, eu achei que o pior tinha acontecido. Não teve piada! – reforçou Sam tentado recuperar o fôlego.

- Acalma-te um pouco Sam…

Sam aproximou-se e esmurrou-o no ombro.

- Nunca mais voltes a fazer isto, a situação já está complicada o suficiente, nós os três agora somos uma família, se algum de nós se tornar um OUTRO, os restantes tornaram-se OUTROS também… – prolongou Sam olhando fixamente para os olhos de Steven que se encontrava visivelmente arrependido.

- Tens razão, foi um pouco parvo da minha parte, mas não foi por mal, e acredita que eu sei que só juntos é que vamos conseguir passar por isto tudo até ao nosso objectivo. À cada vez mais OUTRO’s, o que significa que a sobrevivência é cada vez mais difícil, e agora com a 2ªa evolução pior ainda, mas eu não desisto Sam, nós não desistimos!

- Eu sei parceiro, eu tenho que é que acalmar-me e aceitar melhor as brincadeiras, mas sabes como é, com este sobressalto todo…

- Eu sei Sam, não faz mal. – Steven então estendeu a mão para Sam que lhe deu um aperto.

O tempo estava agora a ficar mais húmido, com cinzentas nuvens, que pouca luz deixavam passar, a cobrir o céu, parecia que a chuva não tardava em chegar até aquele lugar, mas apesar disso tudo á volta deles se mantinha num quieto, inquietante.

- Eu e a Penny descobrimos algo importante, ela está á nossa espera. – e assim com estas palavras Sam cortou o pesado silencio.

Começaram a caminhar por entre os carros manchados de sangue, passando pelo meio dos estilhaços e corpos caídos que povoavam o chão. Não foi preciso muito tempo para irem ao encontro de Penny, que se encontrava num carro ao lado daquele em que estava o corpo.

- Rapazes, finalmente! Exclamou ela.

- Desculpa Penny, tivemos um pequeno percalço. Explicou Sam.

- Passou-se algo? Acrescentou a rapariga com um ar temeroso.

- Bem… - entrepôs Steven.

- Está tudo bem. – interrompeu Sam na tentativa de deixar passar o assunto para não a preocupar.

- Ainda bem rapazes, é que vocês demoraram tanto tempo que eu comecei a ficar preocupada, mas adiante, o Steven tem de ver o que encontrámos.

Penny saiu do carro de onde estava e aproximou-se do carro onde estava o cadáver com cara apenas.

- Olha ali. – indicou ela apontando para o que restava da perna.

Sam debruçou-se e olhou para a chapa de forma a analisá-la melhor.

- È o que vocês estão a pensar de certeza.

- Sim, Steven, também concordas? Inquiriu Penny encostando-se no carro cinzento.

- Mas eles não tinham morrido todos depois da primeira vaga? Inquiria Sam, durante o instante em que tirava o pedaço de metal de entre a carne humana putrefacta.

- Supostamente sim, mas afinal parece que ainda andam por ai, este ainda está cá á pouco tempo. – acrescentou Steven.

- Mas também teve o mesmo destino que os amiguinhos, todos morrerão ás mãos daquilo que soltaram. – finalizou Penny implacavelmente enquanto Sam ainda olhava para a chapa, reparando na inscrição a laser lá feita.

- Steven, Penny! Chamou ele, olhem aqui na chapa esta inscrição. – na chapa encontrava-se a seguinte inscrição.

“ Código 130393/SE.OUTROS
Zona D – Nick Carter”

- Então o nosso amigo Nick estava na “Zona – D” da quarentena, como será que ele escapou? – Penny acabara de colocar a questão a que nenhum deles sabia responder. Se a Zona D da quarentena foi uma das primeiras a ser posta á solta, como é que Nick teria sobrevivido á primeira vaga de OUTRO’s que varreram a cidade.

A pergunta ecoava na cabeça de cada um deles, sem qualquer resposta…



Capitulo V 



A noite começava a cair, acompanhada da chuva pesada, que era normal fazer-se sentir nesta altura do ano. Penny, Sam e Steven montaram uma larga tenda e tecido azul, junto a uns arbustos que se encontravam ladeados por dois carros, um deles verde e o outro vermelho, ambos estavam completamente maltratados e espatifados. Steven ia juntando na frente da tenda pedaços de madeira e folhas secas que ia encontrando de forma a juntar suficientes para acender uma pequena fogueira.

- Sam, Steven! - chamou Penny no interior da tenda.

 - Que se passa? – respondeu-lhe Steven no momento em que pegava fogo às folhas com o auxílio de um fósforo.

- Chama o Sam e venham aqui, acho que captei uma transmissão! – Steven ao ouvir isto correu para ir ao encontro de Sam.

- Sam a Penny captou uma nova transmissão, temos de ir! 

Dito isto Sam deixou em pausa o que estava a fazer nesse instante, ambos sabiam a importância de momentos como este, era pouco usual interceptarem transmissões,
 principalmente depois do que aconteceu no passado. Assim que entraram para o interior da tenda depararam-se com Penny, sentada no chão, com um aparelho de plástico na mão, que se assemelhava a um antigo telemóvel, mas todo alterado de forma a ser capaz de captar qualquer sinal de transmissão em volta.

- Rapazes! – chamava ela enquanto acrescentava mais umas peças ao seu aparelho.
- Tenho uma notícia para vos contar, consegui captar uma transmissão feita ainda á pouco, não consegui identificar o local de que ela foi feita, nem sei quem a fez, apenas percebi  o que era e a sua importância, depois de a descodificar, ela estava oculta por gemidos e choros de OUTRO, encriptados numa estranha linguagem ADS-XIII. – explicou a jovem rapariga de maquilhagem carregada.

- Mas que disseram Penny? Ansiavam os rapazes pela desesperante novidade que Penny tinha para contar, mas que se mantinha num total silêncio.

- Eu gravei a transmissão…

- Então porque não nos dizes? – questionaram os dois.

- Eu vou rebobiná-la, para vocês próprios ouvirem. – dito isto Penny juntou mais duas peças de médias dimensões, que após serem acopladas, fizeram o aparelho começar a emitir ruídos.

Ambos se sentaram , em volta do aparelho e seguiu-se mais uma peça a ser encaixada por Penny e ai sim, a transmissão tornou-se perceptível, e podia-se ouvir  na gravação:

 “ A 2ª Evolução avança de uma forma que não estava prevista, não recebo notícias do Nick á vários dias, sabes o que tens a fazer se ele não chegar até ti dentro de algumas horas.”

A transmissão acabou e voltou-se a ouvir os ruídos e os choros tipicamente caracterizados pela presença dos outros,  que terminaram num silêncio cortante .

A noite  tinha caído e a fogueira que Steven havia acendido, iluminava a negra noite dos três sobreviventes, esta ardia de forma fugaz, lançando fagulhas pelo ar que marcavam a ligeira neblina branca que se aproximava, a fogueira  para alem de iluminar, perfumava também o ar envolvente, enquanto jantavam no exterior da tenda.

- Penny, passas-me esse espeto? Pediu Sam.

- Sim, sim, toma! Acedeu Penny pegando no espeto de metal cinzento e de cabo branco que estava colocado acima da fogueira.

Sam recebeu e agradeceu, e no espeto colocou alguns pedaços de carne que haviam encontrado numa arca frigorífica na casa de campo onde pernoitaram na noite anterior.

- Rapazes, aquela mensagem não me sai da cabeça, pensei que eles já tinham sucumbido às mãos dos OUTRO’s… - perguntava Penny, enquanto olhava para as estrelas que cintilavam e ao iluminar o grande céu, na noite escura.

Ao ouvir isto o rapaz de cabelo loiro pousou lentamente o espeto novamente acima da fogueira e fitou Steven nos olhos.

- Então e tu que achas Stee?

- Sinceramente? Nem sei o que pensar, eu achava eu pelo que tinha acontecido, eles tinham desaparecido, nós vimos supostamente o último deles a ser morto!  -
Os olhos castanhos-mel  de Steven fixaram em contacto com a fogueira, que brilhava por entre a neblina.

- Sabem o que eu acho rapazes?  A 2ª Evolução não foi uma causa natural, acho que a própria evolução, foram eles que a criaram! Mas isto é só a minha opinião, não sei se estarei correcta ou totalmente errada ao pensar isto. – monologou Penny fitando os dois rapazes de frente, nos seus trejeitos denotava-se  um certo temor em relação ao caminho a seguir.

- Calma Penny… Acho que devemos esfriar a cabeça, de nada nos serve estar aqui a especular sobre o futuro, o principal a ter em mente é que ainda existem pelo menos dois deles, temos de nos empenhar em descobrir quem eles  são, e se são de uma suposta nova formação ou se são remanescentes da formação original da organização. – protestou Sam batendo com o punho cerrado no chão.

- Acho melhor irmos para dentro da tenda. – aconselhou Steven.

- Estamos muito cansados, foi um dia extenuante. – continuou Penny passando a mão suavemente pela cara de Sam.

Assim que Steven se levantou em direcção á tenda que se encontrava ladeada pelos dois carros, Penny aproximou-se do ouvido e sussurrou-lhe: “És o meu orgulho”. E em seguida beijou-lhe a face e ajudou-o a levantar e juntos, seguiram na direcção da tenda.

O interior da larga tenda de tecido azul, achava-se quente e acolhedor, sem qualquer perturbação, o intercomunicador continuava sereno, sem nada de novo captado. Os três sentaram-se no chão da tenda sobre mantas e cobertores a apreciar o raro momento de descontracção que estavam a ter, e assim continuaram durante mais algum tempo, na brincadeira e na conversa até caírem no sono no meio da rara comodidade. Todo menos Steven, que ainda se manteve acordado, não conseguia deixar de pensar na gravação vezes sem conta, pois mesmo apesar de tudo o que eles já tinham passado, ainda existiam membros da organização no activo ao que parecia. O que significava que alem de terem de se proteger dos OUTRO’s que desejavam a sua carne, tinham agora que ter também um cuidado redobrado pois não sabiam se estas três pessoas seriam ou não de uma nova organização… Por fim, Steven conseguiu finalmente cair no sono, embalado pelos seus fantasmas do passado, que agora se misturavam com os do presente.

 Penny, que caíra no sono muito antes de Steven, acordou no meio da escuridão por culpa do frio que se abatera sobre a tenda. A jovem rapariga sentou-se no chão, e reparou que a luz azul do seu intercomunicador estava acesa. Ao ver isto, esticou-se para o apanhar, sentindo todo o seu corpo a estalar de forma audível.

Quando finalmente conseguiu alcançar o aparelho, a luz começou a piscar mais intensamente, o que significava que algo estava a ser captado, podia ser mais uma transmissão misteriosa, por isso aproximou-o do ouvido de forma a escutar melhor.

“O Nick está morto, acabámos de encontrar o corpo dele num grande amontoado de carros, vamos continuar as buscas pela arma e pelo Steven de qualquer forma, dentro de algum tempo, envio o relatório.”

Penny pousou o aparelho e apagou a luz que havia acendido para iluminar a tenda, lá fora nada se ouvia, apenas umas fracas luzes se tornavam visíveis por embaterem na parte frontal da tenda, o coração da rapariga disparou e recuou para trás de forma a acordar os dois rapazes que profundamente dormiam, cada um para seu lado.

- Sam! Steven! – chamava ela enquanto os abanava.

- Penny, deixa-me dormir. – resmungou Sam.

- Sam, eles estão aqui! Encontraram o corpo do Nick e agora procuram o Steven!

Eles quem Penny, eles quem? – perguntou Sam, olhando para ela com um olho semi-cerrado e outro aberto.

- Não sei Sam, houve uma nova transmissão e eles disseram que estavam no carro do Nick. – respondeu Penny ofegante e desesperada.

Sam de sobressalto abriu os ohos, levantou-se e pôs-se a chamar por Steven, que tinha acordado entretanto.

- Eles procuram por mim? Não pode ser! Eles tinham desaparecido…

- Steven não á tempo a perder, temos de te proteger! – exaltou Sam, no instante em que vestia o seu casaco preto.

- Não Sam, não vos quero por em risco, é a mim que eles querem… - acrescentou Steven olhando para as luzes que cada vez mais fortes, embatiam no tecido azul da tenda.

Penny que permanecera calada durante esta conversa, decide intrometer-se na acção.

- Steven eles procuram-te por aquele motivo especial, mas tu ajudaste-nos, eles sabem que nós somos! Deve haver também um prémio pelas nossas cabeças, com ou sem sangue a correr nas veias ainda. Se não fosse por ti , nós não estaríamos aqui, a respirar contigo… a resistir contigo… a lutar contigo!

Penny enxaguou as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto e lhe levavam a maquilhagem para fora do contorno nos olhos, Steven e Sam, estavam estupefactos a olhar para ela.

- Steven, ela tem mais que razão. – disse Sam, colocando a sua mao sobre o ombro do amigo.

- Acho que sim… Obrigado por tudo… Família!

As lágrimas escorriam agora pelo rosto dos três amigos, que juntaram as mãos e como se de uma oração de incentivo se trata-se disseram: “ Juntos no fim, Juntos contra os outros!”.

- Vamos a isto rapazes, não podemos ser vistos, já tem tudo? Esqueçam a tenda… - ordenou Penny no momento em que abria o fecho de correr da tenda para poder espreitar.

Ao meter a cabeça de fora repara que as luzes não estão assim tão longe e avista cinco homens, cada um deles vestido de igual forma, com calças pretas, colete cinzento, com luvas sem as pontas a cobrir os dedos e por fim armas, eles traziam armas consigo.

Penny recolheu a cabeça novamente para dentro da tenda e relatou o que acabara de ver.

- Não há dúvida, são eles… - Sussurrou Steven.

- Temos de arranjar outra saída. – acalmou Sam olhando em sua volta. – Penny passa-me uma das tuas facas, vamos fazer um buraco no fundo da tenda, acho que nos podemos escapar pelas traseiras.

Penny puxou do seu colete uma faca dourada e pousou-a na mão de Sam, que pegou nela com cuidado e no meio da escuridão da tenda a aproximou do pano de forma a perfurá-la. A faca trespassou suavemente e silenciosamente o tecido e Sam começou a engendrar o local da fuga.

Aberta a saída, apressaram-se a sair para o frio e húmido nevoeiro, característico do clima da região, os três olharam em volta e conseguiram ver os cinco homens, afastados deles, cerca de 100metros, equipados com potentes lanternas que lançavam grandes torres luminosas no ar, cada uma delas na sua direcção, esta luz ao embater nas viaturas, criavam altas sombras que se espelhavam por todo o chão e se reflectiam nos altos pinheiros que ladeavam a estrada, onde os três se encontravam.

A azáfama da fuga havia começado, e era mais difícil fugirem, estando carregados com as pesadas mochilas.

As luzes começavam-se a aproximar novamente para perto deles, após um pequeno desvio. No ar mantinha-se um frio cortante e a neblina ficava cada vez mais cerrada.
- Penny entra naquele carro e tenta pô-lo a funcionar! – ordenou Sam ao apontar para um carro azul-escuro.

- Sam, não será muito perigoso? – indagou Steven.

- Acho que é a melhor opção dentro do possível Steven, senão não vamos conseguir sair daqui.

Ao fim de dizer isto, Penny escapou-se graciosamente para o dito carro azul, abrindo vagarosamente a porta de forma a não ser vista ou ouvida.

Steven e Sam, seguiram-lhe o rasto e juntaram-se a ela, entrando silenciosamente para dentro do carro azul-escuro, onde esta se encontrava.

- Como vai isso parceira? – questionou Steven enquanto fechava lentamente a porta dianteira.

- Já me liguei ao computador do carro, mas ele continua offline, não estou a mantê-lo suficiente tempo ligado para o por a funcionar. – respondeu nervosamente Penny.

- Oh não eles estão quase aqui! Steven e Penny olharam para trás e viram que os cinco homens caminhavam freneticamente na sua direcção.

- Que vamos fazer? Penny?

- Rapazes o carro não funciona, não conseguiremos sair daqui! – Penny pousou a cabeça no volante em sinal de desistência.

Os homens de colete cinzento aproximavam-se a toda a velocidade do carro.

- Vamos sair do carro! Metam-se por debaixo dele! – Ordenou Sam.

- Vamos! – responderam os outros dois rapidamente e em conjunto.

Então os três, da mesma forma que entraram na viatura, também dela saíram, tão rapidamente que Penny nem tempo teve de desligar os cabos que havia ligado ao computador de bordo.

Uma vez no exterior, sentiram os homens a chegar perto deles logo após terem rastejado para debaixo do carro. O coração de cada um deles parou assim que se sentiram rodeados, de repente o carro começa a fazer barulho…

- Bem, Bem, Bem, que temos nós aqui? Uma ligação directa?

Esta voz era-lhes familiar, mas nem por um segundo quiseram acreditar que pertencia a quem eles julgavam morto. Não queriam acreditar que seria quem eles pensavam que fosse.

Um dos homens baixou-se e iluminou por baixo do carro, a luz iluminou Penny Sam e Steven e sem aviso apagou-se e cada um deles foi agarrado pelas pernas e arrastado de debaixo da viatura.

Passados alguns instantes, a luz do intercomunicador começou a piscar freneticamente na tenda, iluminando o silêncio da escuridão, uma nova mensagem estava a ser transmitida.

“Encontrámos o Steven… E como bónus, levamos até si o Sam e a Penny. Oliver a desligar.”

A luz do intercomunicador apagou-se e a escuridão reinou novamente.



Fim.